segunda-feira, 17 de julho de 2017

Consumo colaborativo avança no Brasil

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Por: Celia Rosemblum
Economia compartilhada ou consumo colaborativo são conceitos relativamente novos, ainda distantes da popularização. Mas já fazem parte do dia a dia. Quem adota o “desapego” – trocar, alugar, compartilhar, emprestar ou comprar usado de outros consumidores, ao invés de pagar por algo novo ou exclusivo – é, ainda que de forma não consciente, adepto dessas práticas que começam a ganhar musculatura.
“É claro que compartilhamento e colaboração são tão velhos como a sociedade, mas não dessa forma, entre desconhecidos ou pessoas que já não se conheciam a priori”, diz Fabián Echegaray, diretor-geral da consultoria Market Analysis, responsável pela pesquisa “Radar de Consumo Colaborativo”, que chega este ano à segunda edição.
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A familiaridade dos brasileiros com as noções e práticas de consumo colaborativo e economia compartilhada evoluiu de 20% para 26% da população urbana nos últimos dois anos. Segundo a pesquisa, três em cada dez pessoas que têm claro o conceito praticam o consumo colaborativo. A experiência, porém, ainda é restrita aos mais informados, conectados e integrados ao mercado, revelam os dados colhidos junto a 810 pessoas, de nove regiões metropolitanas, entre 20 de março e 19 de abril.
O estudo, que reflete a demanda potencial dos consumidores, explica Echegaray, aponta como mais promissores os negócios de mobilidade/transporte – caronas ou aluguel de deslocamentos como o Uber -, com 62% de alta probabilidade de adoção, seguidos por modos de compartilhamento de eletroeletrônicos (locação ou aquisição de usados ao invés da compra de um novo) e livros, também com trocas e aluguel.
A trajetória da OLX, a primeira marca a ser citada de forma espontânea pelos entrevistados em associação com a economia compartilhada, reflete o avanço desse mercado. Em 2011, quando o site de compras e vendas on-line iniciou as operações no Brasil, veiculava 3 mil anúncios por dia. Hoje são 500 mil, que atraem 40 milhões de usuários por mês e geram 2 milhões de vendas no mesmo período. “Não existia o hábito de a pessoa física entrar na internet e vender on-line. Estamos construindo isso ainda, pode crescer muito mais”, diz Andries Oudshoorn, CEO da OLX Brasil.
O território verde-amarelo é fértil para empresas como OLX, Uber, Mercado Livre, Cabify, entre outras, por um motivo aparentemente paradoxal: os brasileiros não confiam nas pessoas. É um “grau de desconfiança interpessoal altíssimo, que existe há décadas”, afirma Echegaray. Segundo a edição 2010-2014 do World Value Survey, apenas 7,1% dos brasileiros acreditam que podem confiar na maioria das pessoas. Entre os suecos, são 60,1%. Na média dos países pesquisados, o índice é de 30,8%.
Essa desconfiança está na base de uma versão mais comercial e menos comunitária do consumo compartilhado no país. As empresas atuam de alguma forma como garantidoras das transações, explica o diretor da Market Analysis. Em outros países, a resistência a elas é maior.
O potencial do mercado é alto. Hoje, no Brasil, a prática consciente está limitada a 8% da população. “Existe uma tendência mundial de crescimento do consumo colaborativo, que começou um pouco antes na Europa e nos EUA”, diz Oudshoorn, da OLX. Uma pesquisa feita pela empresa com o Ibope, no ano passado, constatou que 90% dos brasileiros possuem em casa diferentes objetos para vender, com valor médio de R$ 4 mil. “O modelo casa com o brasileiro, que gosta de empreender”, afirma.
A crise econômica acelera uma tendência que já existia: “Ela traz mais consciência da oportunidade de gerar renda com produtos que não se usa mais, de contribuir para a economia da família”, diz o executivo. A OLX faturou R$ 99 milhões em 2016, computou aumento de 90% no número de transações e registrou nesse ano um “crescimento forte”, que Oudshoorn prefere não detalhar.
Mas o que é bom para os negócios talvez não seja o melhor para o movimento de consumo colaborativo em seu sentido original. A atuação forte de empresas pode limitar o entusiasmo de quem identifica a economia compartilhada como uma alternativa mais sustentável e socialmente inclusiva de consumo. “Mas, hoje, parece ser a maneira como o novo movimento conseguiria ganhar escala e perdurar”, diz Echegaray.

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